De Clark Kent a Gambiarras nos games, a trajetória de pesquisa do professor José Messias

Texto: Gessiela Nascimento

 

Gambiarras – quando você lê esta palavra, qual o primeiro pensamento ou significado surge em sua mente? Bom, algumas pessoas podem pensar em improvisação, remendo e fios de energia. Já outros, como o Prof. Dr. José Messias, docente adjunto do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, da Universidade Federal do Maranhão – Imperatriz, referenciou e aplicou esse mesmo termo aos estudos científicos sobre games, cultura hacker e tecnologia digital, e destaca que além de sua pesquisa, é também, o seu hobby, “meu objeto de estudo, as gambiarras no games, vem do meu interesse por pirataria e cultura hacker como forma de acesso à cultura e atividades que gosto como games, música e histórias em quadrinhos japonesas (mangás)”.

Carioca, flamenguista, curte um rock e metal progressivo, tênis é seu esporte favorito, e filmes de ficção científica sempre estão na sua lista – assim podemos definir Messias, que é graduado em Jornalismo e mestre em Comunicação, ambos pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), doutor em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com período sanduíche da Universidade de Wisconsin, Milwaukee, e pós-doutor em Novas Tecnologias de Comunicação e de Informação, na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Mesmo tendo o ensino médio/técnico em eletrotécnica, na Fundação de Apoio à Escola Técnica do Rio de Janeiro (FAETEC), sempre esteve voltado para área das humanas, “eu sempre fui muito fã de quadrinhos, então sempre digo que minha referência no jornalismo são o Clark Kent e a Lois Lane, e provavelmente foi esse o motivo de eu ter prestado vestibular. Talvez não necessariamente por causa deles, mas por trabalhar com jornalismo cultural e poder escrever sobre quadrinhos e cinema”, comenta. Movido por esse desejo, na graduação e mestrado, os estudos envolviam super-heróis e samurais, e a partir desse ponto, escolheu pesquisar sobre games customizados, e lembra que no doutorado, o problema de pesquisa surgiu quando mesmo esperava, percebendo que as atividades que costumeiramente fazia – os filmes, jogos e quadrinhos – seriam um lugar de estudo bem interessante, ainda mais na perspectiva da regionalidade e da gambiarra.

 

 

Do vínculo como bolsista à vivência no exterior

Durante toda formação acadêmica, Messias, sempre possuiu vínculo como bolsista. Na graduação, contemplado com incentivos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), já na pós-graduação, os recursos advinham da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Devido ao seu histórico, o professor destaca sobre a relevância desses acordos tanto para o aluno, quanto para a Instituição de Ensino Superior, “em primeiro lugar, ser bolsista na época e sobretudo atualmente com a escassez de bolsas e recursos para ciências sociais e humanas é um privilégio. Não devia ser assim e o investimento deveria ser dividido igualmente entre as áreas, porém, tendo em vista esse cenário, é importante para o bolsista aluno de universidade pública em geral, valorizar esse espaço, zelar o patrimônio público e principalmente ter a responsabilidade de cumprir suas demandas, seja fazendo um trabalho de qualidade e ainda prestando contas do que foi recebido, de forma que os próximos alunos possam também usufruir do recurso”.

Além de conseguir uma bolsa, outro fator também decisivo quando o desejo é uma carreira acadêmica internacional é o domínio da língua estrangeira. Messias cursou doutorado sanduíche na Universidade de Wisconsin, agraciado pela bolsa Fulbright, que busca promover formação de estudantes e pesquisadores brasileiros, mediante coordenação entre os governos do Brasil e EUA, e que para isso uma segunda língua foi essencial, “a maioria dessa bolsas tem exigido proficiência em inglês, mesmo a bolsa pela Capes.  Então, tão importante quanto conseguir um tema e orientação, é conseguir as bolsas/financiamento e para isso o domínio da língua estrangeira é obrigatório. Até porque inglês não serve só para falar com americanos e europeus, mas também com colegas do continente africano e asiático”. Messias ainda enfatiza que não é só o inglês, mas que desde o governo Lula, existe o incentivo para o espanhol com integração latino-americano, porém, ainda é algo que precisa de diálogo e fortalecimento.

A trajetória acadêmica no exterior não para por aí, em 2013, o pesquisador participou da International Association for Media and Communication Research, em Dublin, na Irlanda. “O diferencial dele e o mais legal é que consegui o financiamento pelo extinto Ministério da Cultura. Eles tinham um programa de difusão e intercâmbio cultural que financiou viagens de artistas, produtores culturais e também pesquisadores (numa escala menor) para representar o país, no meu caso rolava também apresentação de paper”, e frisa que o mais importante é o reconhecimento pelas instituições públicas, e também encontrar essas oportunidades e aproveitá-las ao máximo, e ainda lamenta pelo atual governo não ver a Cultura e Educação, com focos nas humanidades, uma área estratégica como anteriormente.

 

As pesquisas no Brasil e o GamerLab

Pesquisar sobre games e cultura digital, no Brasil, não é algo tão novo assim. Segundo Messias, se levarmos em consideração as produções de Lúcia Santaella sobre a temática e até mesmo o livro Cibercultura – tecnologia e vida social na cultura contemporânea, de André Lemos, já se tem uns 20 anos ou mais, ou seja, muita coisa já foi dita e escrita no país. No entanto ele abre parênteses para uma observação: “uma tendência que está sendo incorporada de forma explícita, embora já estivesse presente de forma mais implícita, seria a discussão regional e política sobre games, sobretudo em viéses decoloniais, pós-coloniais e até anticoloniais (e anticapitalistas). Esse é um filão que não entende a experiência de jogar e a técnica do jogo como neutra ou universal, o que faz com que certos modelos de análise vindos dos países europeus ou dos Estados Unidos não sejam aplicados de forma tão direta aqui”. Além disso, destaca pesquisadores de instituições brasileira que possuem uma centralidade nessa questão, “de forma mais coletiva, a Prof. Dra. Suely Fragoso, da UFRGS, e a Prof. Dra. Fátima Regis, da UERJ, têm formado uma série de pesquisadores no nível de mestrado e doutorado nos seus grupos de pesquisa nos últimos 10 anos. Individualmente o PósCom da UFBA formou também um grupo de pesquisadores sob orientação do próprio André Lemos, como os docentes Thiago Falcão (UFPB) e Luiz Adolfo Andrade (UNEB).

A Universidade Federal do Maranhão, campus Imperatriz, agora está dando seus primeiros passos acerca dos estudos de games e gambiarras. Messias é coordenador do Grupo de Pesquisa GamerLab, e informa que o objetivo do GP é promover aos integrantes um “letramento crítico a partir de intervenções hackers e criativas com a tecnologia digital. Ou seja, as formas como se “aprende” a usar a tecnologia e até noções de programação e computação não apenas jogando, mas também fazendo experimentações e modificações com eles”. E além disso, busca-se também, investigar numa perspectiva política tal temática, e posteriormente, “contrapor uma indústria dos games e do entretenimento global (principalmente do hemisfério norte – Europa e Estados Unidos) com uma cultura gamer dos países periféricos com suas demandas específicas, contextos e infraestrutura subdesenvolvidas e soluções precárias”. A gambiarra se faz importante nesse eixo, pois, ela explica o cenário apontado e tais conflitos, com suas diferentes forças e interesses. Os alunos do GP exercitam isso com os jogos que conhecem, como por exemplo, o Pro Evolution Soccer e o famoso Bomba Patch, a franquia The Sims, Guitar Hero, GTA, entre outros.

Ficou entusiasmado em desenvolver pesquisas nesse grupo? Os alunos internos, possíveis candidatos ao PPGCOM/UFMA e até mesmo discentes externos, podem enviar uma e-mail para gamerlab@ufma.br, seguir as redes sociais que estarão listadas abaixo, e manifestar interesse em integrar o GamerLab.

 

Para saber mais, acesse os links

José Messias – Lattes: http://lattes.cnpq.br/8042448829229400

Instagram e Facebook: @gamerlab/ufma

Email: gamerlab@ufma.br