Do ensino básico ao doutorado sanduíche na Inglaterra: conheça trajetória da professora Isabele Mitozo

Texto: Letícia Holanda

 

De professora do ensino básico até a conquista para se tornar docente efetiva na Universidade Federal do Maranhão, na cidade de Imperatriz, Isabele Mitozo percorreu um longo caminho que a trouxe do Ceará ao Maranhão. Sua história coleciona prêmios, aprovações em concursos, fazer doutorado na Inglaterra, publicações de artigos e muito mais. Contudo, até alcançar seu prêmio de ser professora concursada em uma instituição pública, Isabele percorreu vários caminhos, entre eles, mudar de área de conhecimento: da graduação em Letras para as pesquisas na área da Comunicação.

“Sempre cultivei uma responsabilidade com o conhecimento e a pesquisa”, diz ela. Recém chegada ao Programa Mestrado em Comunicação e ao curso de Comunicação Social/Jornalismo da UFMA, de Imperatriz, Isabele Mitozo começou sua carreira como professora do Ensino Fundamental e Médio; e como educadora de línguas estrangeiras. Porém, hoje, ou melhor, desde 2019 é docente universitária e pesquisadora, desenvolve trabalhos nas áreas da Comunicação Política, Poder Legislativo, Participação e Transparência Online, Debate Público Online e Jornalismo Político.

Com uma significativa participação acadêmica, Isabele Mitozo é vice coordenadora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Sociedade (COPS), da UFMA, e trabalha na linha Comunicação Política e Campanha Eleitoral. E não para por aí, pois ela também é docente e pesquisadora no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PósCom), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde realizou o pós-doutorado.

“Mesmo atuando em dois Programas de Pós-Graduação em Comunicação e em um curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, hoje eu me considero como uma professora e pesquisadora da área da Comunicação e Política”.

Em 2019, a docente concluiu o pós-doutorado, com bolsa CAPES, no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD), ligado também a UFBA. E hoje, é pesquisadora associada do INCT-DD, tendo parcerias de pesquisas e sendo integrante do Grupo de pesquisa em Comunicação, Internet e Democracia, na linha parlamento digital.

Natural de Fortaleza no Ceará, Isabele iniciou o seu caminho na pesquisa durante a graduação, sendo formada em Letras pela Universidade Federal do Ceará (UFC).  Como graduanda foi monitora de disciplinas e bolsista de Iniciação à Docência (Pibid), o que mostra como ela sempre tinha ligação com a sala de aula e a pesquisa, tendo realizado estudos na área da linguística, análise do discurso e psicolinguística.

“Minha graduação foi muito importante para toda essa minha base que foi construída, algo que ajudou a me construir enquanto alguém que tem uma noção do que é pesquisa, que se interessa pela pesquisa, e sabe escrever um artigo científico. Minha área de formação acabou facilitando esse percurso para desenvolver pesquisas, e ajudou no meu retorno para academia, porque depois que finalizei a graduação, em 2007, não fui direto para o mestrado, devido as condições financeiras na época. Então passei quatros anos trabalhando como professora do ensino básico e de línguas estrangeiras, e somente em 2011 decidi voltar para contexto acadêmico”, destaca a docente.

Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Isabele realizou Estágio Doutoral na University of Leeds – UK, na Inglaterra. Na tese trabalhou com a pesquisa sobre E-Participação nos parlamentos, desenvolvimento e uso de iniciativas pela Câmera dos Deputados brasileiros e pela House of Commons britânica, buscando analisar como os parlamentos têm desenvolvido mecanismos online para a participação política.

“O ambiente universitário fez com que eu desenvolvesse uma expertise política, eu era muito envolvida com algumas questões na universidade. Minha casa sempre foi um ambiente em que se discutiu política de alguma forma, meus irmãos sempre foram engajados, um deles era filiado de partido político, e tudo isso me levou a ter o interesse de estudar política”, ressalta.

Já no mestrado em Comunicação, UFC, desenvolveu um estudo sobre participação e deliberação em ambiente online, analisando o portal e–Democracia, para compreender o cenário de participação e a valorização que o Poder Legislativo se utiliza em relação aos mecanismos de participação. A pesquisa foi considerada a melhor dissertação de 2013 do programa da UFC e indicada para o Prêmio Compós de Teses e dissertações da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação.

“Foi justamente desse meu lado como educadora e curiosa por política, que nasceram as minhas pesquisas, que nasceram todos os meus interesses de estudo, seja quando eu estava ainda na Letras, seja quando fui para Comunicação e Política. Passei a estudar alguns temas, apesar de ter como temática a Participação Online, e hoje, de modo geral, como se dá essa digitalização dos parlamentos”, conta.

Pesquisas recentes

Atualmente, a docente coordena e desenvolve dois projetos de pesquisa, sendo o primeiro sobre “Comunicação online e abertura dos parlamentos: Informação, Transparência e Participação nos portais legislativos brasileiros”, que visa compreender como os legislativos têm utilizados ferramentas digitais para publicizar suas atividades, e deixar mais transparente as ações, além de facilitar a participação dos cidadãos.

Já a outra pesquisa tem o objetivo de entender o “Fluxo de informação online e comportamento eleitoral: Campanha política pelo WhatsApp, perfil dos eleitores e decisão do voto”. A ideia é fazer um estudo comparado para compreender se o WhatsApp vai ser uma ferramenta crucial nas eleições de 2020, como ele foi em 2018. Será feita uma análise do conteúdo das mensagens que vão circular nos grupos de campanha eleitoral.

“Tenho desenvolvido algumas pesquisas que me interessam e que eu julgo importantes para área. O que eu quero fazer é conjugar esses diferentes conhecimentos, e tentar fazer uma contribuição, trazendo um impacto para os estudos científicos da área, e também gerar impactos sociais e políticos que possam trazer melhorias”, destaca.

Projeto de extensão “Diz, mulher!”

Hoje, Isabele coordena também um projeto de extensão “Diz, mulher! Diálogos em Comunicação e Política”, que consiste em uma série de lives, com transmissão quinzenal, dos quais participam mulheres pesquisadoras em Comunicação e Política, que têm discutido diversas questões, como comunicação pública, jornalismo político, parlamentos digitais, opinião pública, debate nas redes sociais, desinformação, e também a relação dessas temáticas com a pandemia da COVID-19.

“A ideia do projeto surgiu a partir de uma inquietação nossa, de uma realidade infelizmente natural e escancarada dentro da academia, que foi justamente em saber onde estão as mulheres na pesquisa, cadê as pesquisadoras sendo publicizadas, tendo suas ações e pesquisas tornadas publicadas? Então entramos nisso com dois objetivos, tanto de publicizar a ciência, quanto de mostrar que na ciência há desigualdade de gêneros não se justifica, de forma alguma. As mulheres também têm produzido muitas coisas boas, no mesmo nível e as vezes até em nível superior de alguns homens”, destaca a docente.

As transmissões acontecem no canal do YouTube do Grupo de Pesquisa Discurso, Comunicação e Democracia (DISCORD/UTFPR), direcionadas para estudantes, docentes e o público em geral, no endereço: https://www.youtube.com/channel/UCZfy_D69Ah80JVCSkdMUS1w.

Produtividade

Da trajetória acadêmica, Isabele já soma 24 artigos publicados em periódicos em nível nacional e internacional, 7 produções em capítulos de livros publicados, 20 trabalhos em anais de congressos, e também já participou de bancas de trabalhos de conclusão de curso de graduação, mestrado, especialização, e de qualificações de mestrado e de doutorado. Atualmente está orientando dois projetos de mestrado, na UFMA e UFBA.

Mesmo com o isolamento social devido ao covid-19, o ritmo intenso de trabalho não diminuiu. “Não estamos indo para a sala de aula, mas a rotina de leituras, produções, orientações, participação de reuniões online, entre outras atividades, continuam a todo vapor”, conta.

Conquista

“Sempre tive clareza do meu objetivo no âmbito profissional, eu queria ser uma professora e pesquisadora universitária. Sair do ensino básico, justamente porque queria ser mais desafiada, e eu achava que o ambiente universitário ia me permitir ter esse desafio, entrei no mestrado e já sabia que era isso que eu queria, então fui com essa mão olhando para taça, e não é que eu consegui. Hoje trabalho no que eu gosto. Gosto de produzir, orientar e dar aula”, finaliza a pesquisadora sorridente.

Para saber mais sobre as ações da docente, acesse o Lattes: http://lattes.cnpq.br/3829158068953337.

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